TELENOVELA

Acabei de ler o artigo “TV: o Processo de Criação das Telenovelas” dos autores Lúcia Oguri, Marie Chauvel e Maribel Suarez. Separei alguns pontos que me chamaram a atenção:

1. A necessidade da flexibilidade no processo de criação 

“Os estudos mais recentes da área de desenvolvimento de produtos procuram enfatizar, além da necessidade de pesquisas e da participação dos clientes, a importância de processos mais flexíveis, no lugar dos convencionais modelos sequenciais, em que as diferentes etapas se sucedem, de forma organizada e previsível. Combinando um senso de urgência com a incorporação permanente de novas informações e a troca entre colaboradores no projeto, a proposta flexível procura minimizar o custo econômico de uma mudança no produto em relação a mudanças em variáveis internas ou externas no processo de desenvolvimento.”

2. A capacidade de improvisação ganha força nas organizações

3. Modelo baseado na improvisação jazzística

KAMOCHE, K; CUNHA, M.P. Minimal structures: from jazz improvisation to product innovation. Organization Studies, v. 22, nº 5, p. 733-764, 2001.

“Os autores destacam dois elementos que comporiam a estrutura mínima do jazz que poderiam ser transportados também para a realidade das empresas: as estruturas sociais e técnicas. As primeiras incluem elementos como normas de comportamento, códigos de comunicação, parcerias autônomas, dinâmicas de solo e acompanhamento, atitudes de abertura ao risco e à experimentação. Já as estruturas técnicas dizem respeito às convenções técnicas, bem como a variedade e combinações de talentos, habilidades e capacidades que cada indivíduo traz para o conjunto.”

4. Telenovelas da Globo

As telenovelas da rede Globo estreiam com 12-18 capítulos gravados. Depois disso, são produzidos capítulos semanalmente. Este processo permite a equipe de criação realizar pequenas adaptações, deixando a obra aberta, por escolha. A Globo incorpora a improvisação em seu processo, entendendo que toda a novela necessita de certas correções em seu rumo. Estas, podem ser de maior ou menor grau, assegurando que a troca com a audiência seja estimulante.

O início do roteiro de uma novela passa pela sinopse (trama principal – histórias paralelas). O interessante é que a sinopse original, em 95% dos casos, não sofre alteração. O que pode mudar é o seu enredo com os feedbacks do público.

5. Pesquisas

O IBOPE oferece os índices de audiência (coletados em tempo real) que servem de indicadores para planejar a grade de programação, possíveis alterações, e a análise da concorrência.

Pesquisas QUALITATIVAS acabam complementando e aprofundando os dados do IBOPE.  Grupos focais são feitos na Globo para cada novela (cap. 18, 36, 54).

Quem coordena o processo de pesquisa formal da Globo é a “Divisão de Pesquisa da Globo”. Usualmente os autores não tem acesso aos relatórios, que só são apresentados e discutidos quando necessário.

Além das formas citadas anteriormente ainda existe a Central de Atendimento ao Telespectador, que atende 50 mil ligações mensais. Quando oportuno, a central emite um sinal de alerta para ser observado pela criação ou produção.

Quem articula todas estas informações é a Central Globo de Qualidade (CGQ), fazendo a mediação entre a audiência e os profissionais de criação/produção.

6. “Improvisação planejada”

Como conclusão, o artigo aponta dois elementos fundamentais e complementares da Globo no desenvolvimento das suas novelas: sinopse e trilho. Estes, que permitem a empresa improvisar de forma planejada.

SINOPSE: “[...] que funciona como o modelo básico, o conceito, o protótipo, a visão que guia e oferece marcos sobre os quais se cria o improviso”. Apresenta um modelo comum sobre todas as áreas da Globo para que possam trabalhar de forma articulada.

TRILHO: um espaço de tempo (intervalo) para a audiência construir sua opinião. Todas as pesquisas aqui evidenciam o foco para o cliente, permitindo realizar ajustes à reação da audiência.

* A imagem que ilustra este texto, na página inicial, é da artista Cristiana Couceiro.